sexta-feira, 30 de julho de 2010

Bloco de notas feminino


Admiro a tendência feminina à guerra. Sexo frágil fui eu, sou eu, toda vez que encontro uma filósofa beavoiriana com detalhes sinuosos de beleza latina. Torno-me um dependente químico em poucos segundos. Químico era o natural, físico era o desejável. Para que o público feminino não se assuste, lembro que o simples encantamento dura até meses em um homem normal.
O grande problema deste embasbacamento químico é quando ele se transmuta, grita ferozmente dentro do peito para que o boêmio e malandro carioca do meu interior se sobreponha sobre o ranço sisudo de um paulista convicto. Mas geralmente o boêmio se envaidece de uísque vagabundo e se põe a hibernar. Seu sono é muito profundo, naturalmente, mas há nele algo muito peculiar. Ele balbucia palavras desconexas e estrangeiradas para um português culto a que me proponho a falar quando estou em dependência química por alguém. Essas palavras não possuem matriz latina com certeza. Muita menos anglo-saxônica. Nem sequer oriental. Elas alternam-se no tom, acompanhando a respiração moribunda e desregulada de um carioca bêbado dentro de mim. Qualquer homem normal gostaria de saber o porquê de se eu - lírico ser tão negativo, inútil. Eu estava em maus lençóis.
Que não seja por isso. A classe médica garante que o primeiro passo para livrar-se da dependência é assumir o erro. Pois que seja assim. Assumo meu erro. Tratem-me já!
Traduzindo o tom imperativo às luzes do conhecimento humano, esse ser desesperado só queria dizer ao mundo que precisava de ajuda. E que desejava ser objeto de um milagre. Gostaria de ter aquela filósofa beavoiriana com detalhes sinuosos de beleza latina pra chamar de amor. E pra que não passe despercebido aos leitores mais críticos: tempos verbais e demais detalhes lingüísticos não são prioridades de um dependente químico. E finalmente, um eu lírico bêbado de linguagem boçal só poderia estar me alertando que eu estava apaixonado. Mas também, quem é que vai entender o dialeto do amor...

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