quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

"Amar-te-ei até que me convir"

Oh, diabo louro que me inquieta! Tuas faculdades mentais me são duvidosas; já sua beleza tenho como dogma divino. Seu sorriso e seu comportamento voláteis me seduzem há anos (...)
Quero-te para mim assim como dizem que Deus nos quer para anjos. Sei que se um podia puder lhe falar de maneira altiva e importante que seus olhos dêem guarida à minha verborragia, quero aproveitá-la da maneira mais intensa! Perdoe-me diabo louro se não lhe tenho mais aquele platonismo. É causa de que o perdi nos meus anseios carnais. Não me consterno mais ao tratá-la como objeto de consumo. Sim, tu és meu objetivo. E bem sei que tu és também o meu findar, pois quando a senhorita me ter como seu amo, coisa boa não dará! Nós somos espíritos deveras intensos para um lenga-lenga romântico. Nossa coesão se dará pela chama, pela chama e pelas mútuas conveniências.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Em terra de cego, quem tem um olho é rei - O MST e seus adversários



Sou fã incondicional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Só pelo fato de Noam Chomsky, no Fórum Social Mundial, ter alcunhado o movimento como "o maior movimento social do mundo", minha posição seria fácilmente explicável. O que não é fácil de se entender é o macartismo da imprensa brasileira e dos seus formandos em reacionarismo político, os brasileiros. Esses, não conseguem encontrar a relação óbvia de orgulho nacional e bons serviços prestados à nação brasileira pelo MST. Sim, algum provável alvo da minha ironia inicial deve ter rido da última afirmação, pois "eficiência" faz parte do seu dicionário sacro. Faz parte, porque eficiência quer dizer que o caótico trânsito de SP não pode ser parado por causa de uns baderneiros com bandeiras vermelhas, que bradam palavras de (des)ordem e esperança.

A esperança para uns é o pesadelo de outros. O que é Reforma Agrária para as famílias campesinas que lutam por alguns alqueires de terras, pode ser um atentado à moral e os bons costumes. Moral, leia-se: propriedade privada. Propriedade essa que na letra da constituição, se faltar com a sua função social, deve ser expropriada, extinguida, posta à ruina. Por que então sentir empatia pelos pés de laranja de uma empresa que sequer abastece-nos com um litro de suco? Por que sentir empatia por mudas e sementes transgênicas que ferem a lei ambiental e até a livre concorrência que os liberais dizem ser tão importante? Eu não sinto empatia por pés de laranja. Eu sinto empatia por estômagos que estão acostumados a roncar de fome e ouvidos acostumados a escutar que sua luta é equivocada. Isso é ou não é um bom serviço prestado ao povo brasileiro? Estou cansado de ver ambientalistas e defensores das matas e dos animais a chorar quando veem o sofrimento de seus rebentos. Mas quem vai até o cerne da violência, do bandido que suja os rios e destroi as matas, é o Movimento dos Sem Terra. São os tais "vagabundos". "Aqueles que não querem aprender a pescar, querem apenas comer o peixe pescado." Mentira! Vagabundos somos nós que ficamos enfurnados e desnorteados na conjuntura social que o capital nos impõe. Que ficamos temerosos se a chuva vai ou não atrapalhar o nosso final de semana na Fazenda dos Prazeres, do prefeito da nossa cidadela, mais vistosa como ambulatório e confinamento de lavradores de cana de açucar. Sou eu, é você.
Até quando aqueles que estão à frente do nosso tempo, que procuram alterar o que se chama economia de mercado e transformá-la em economia solidária, transformar o latifundiário em milhares de assentados, vão sofrer com a nossa burrice, a nossa falta de cidadania e também de [nossa falta de] inteligência? Os atores sociais do nosso tempo, muitas vezes, nem sabem escrever. Tampouco foram na escola. Tampouco já chegaram perto de um computador. E mesmo assim, são eles quem lutam pelo progresso e pelo desenvolvimentismo, não só do "Estado Democrático de Direito", mas da condição humana de se indignar.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Logout

Quero cancelar a conta. E não é do MasterCard. Outro problema, mas não tão urgente. Quero cancelar a mim. Quero cancelar o que eu criei de mim. Quero reordenar o existencialismo de Sarte que tanto me seduzia. Quero o fim do meu avatar. Quero o fim da minha alma digital, o meu holograma. Aquele quem eu pareço ser, não é de fato uma representação fidedigna. Os tubos de elétrons não mostram minhas falhas de caráter. Eu quero ser imperfeito. E real. Mesmo que esse real não seja algo palpável para boa parte da humanidade. A ditadura iniciou-se há algum tempo e nunca fora abalada. A aura de inovação e de alegria inebria-nos. Cala-nos. Diminui-nos. Quero minha indepedência. Dá-me o logout.