terça-feira, 29 de junho de 2010

"O menos ruim" x "Messianismo político"

A complexidade da identidade nacional. A mentalidade escravocrata alida à de escravo. O preconceito de classe onde não deveria existir. Os analfabetismos: o político, o educacional e por que não o humano? Toda essa conjuntura compõe a sociedade brasileira e cria o embate que dá nome a este "artigo".

Contextualizando e dando contornos mais reais, podemos citar as frases, os pensamentos falados, escritos, balbuciados, da população brasileira em época de eleição, por exemplo. As conversas, os debates, acontecem em todos os lugares. Já presenciei-os no ônibus escolar, em reunião familiar, no comércio, na internet, em todo lugar. Isso é um bom sinal, é a tão sonhada politização brasileira. Ou melhor, politização à brasileira, pois é constante a ausência de profundidade nessas discussões. Há muita polarização. E uma polarização retrógrada, baseada nas informações que a mídia televisiva veicula, e convenhamos, não são fontes confiáveis. Mas apesar de tudo, não deixam de ser interessantes, ainda mais as falas, como essas:

- Todos os políticos na disputa presidencial são ruins, péssimos. (I)
- Não apenas os que estão disputando, mas todos, sem exceção, são péssimos. Corruptos. (II)
- Votarei em "A", o menos ruim! (I)
- Pois é. Eu vou anular o voto. (II)

Essa conversa simulada, baseada em opiniões reais, são constantemente expressadas em qualquer lugar e exemplificam o embate entre o cidadão que opta pelo candidato "menos ruim" e por aquele que se ausenta da ação democrática de votar em razão da ausência do "Messias político".

Quando o brasileiro é obrigado a optar pelo presidenciável menos ruim, e mais, quando sua interpretação é de que não há bons candidatos, é possível entender como os acontecimentos históricos passados estão presentes, ainda. Primeiramente, podemos lembrar a Escravidão como co-formadora desta mentalidade. Co-formadora, pois sabemos que sempre houve quem lutasse contra ela [a escravidão], de forma rebelde, mas também criara setores submissos. E sua longa duração, somada à abolição oficialmente assinada com a pena do principado brasileiro, é só mais uma "reforma" elitista. Antes desse acontecimento, aconteceu a Independência do Brasil. Independência? Talvez. Nossos vizinhos latino-americanos ostentam seus próceres da revolução. Mas e o do Brasil, quem foi? Não houve.
Aprofundando ainda mais, lembramos das Câmaras Muncipais onde só os "homens bons" concorriam às eleições pra administrar determinada região. Podemos citar o golpe da maioridade, a República café-com-leite, alternando os presidentes entre ora mineiros, ora paulistas. E há o acontecimento mais trágico e também o mais recente: a ditadura militar. O golpe impediu o desenvolvimento da democracia brasileira. Ao invés de eleições populares, o país era governados por tiranos torturadores e assassinos. Todos esses fatos contribuiram pra nossa passividade. Ou seja, no Brasil, o povo sempre esteve ausente da política. Sendo sempre obrigado a aceitar o político, o sistema econômico, "o menos ruim". Lembrando que esse "menos ruim", nunca foi estipulado pelo povo.

Já o brasileiro que anseia pelo "Messias político", existe outra possível causa para este ideário político. A religião como participante ativa da vida política brasileira desde que aqui chegou, influencia-nos. Lembremos da Companhias de Jesus, em que surgiu a aculturação índigena, travestida de "proteção espíritual". Baseados nessa equivocada premissa, índios eram ensinados que suas divindades nada mais eram do que representações demoníacas. Inclusive, fazia-se até teatros em que o assunto sempre fosse "O Bem x Mal". E não preciso dizer quem era o "mal" dessa história. Mais adiante, lembramos também dos belos sermões de Pe. Antônio Vieira. Exímio orador, ele fazia de suas celebrações algo mais do que uma adoração divina. Sua igreja era um palco social, onde se formavam filas enormes para ouvi-lo. E as posições de Vieira, também lhe custaram até investigações sobre o Tribunal do Santo Ofício. E além tudo isso, o Pe. ainda era adepto do Sebastianismo. Ele acreditava na criação do V Império do Mundo, que seria regido por Portugal.
Mais adiante ainda, podemos lembrar de várias revoltas nativistas ocorridas no Brasil sob liderança de religiosos. Podemos citar Frei Caneca, que foi líder da Revolução Pernambucana e da criação da Confederação do Equador. Além dele, na Revolta de Canudos o líder era Antonio Conselheiro. Na Revolta do Contestado, os monges de SC e do PR defendiam a volta do Império. Entre outros, esses são exemplos claros da criação e desenvolvimento do Messianismo político no Brasil e que ainda hoje está de forma direta ou indireta no insconsciente de muitos brasileiros. Óbviamente, essas marcas ainda não encontram vestígios tão ortodoxos como antes, mas quando retomamos o tema central deste artigo, percebemos que a população brasileira ainda sente falta de um unificador/libertador. E só dá chance a ele. Mesmo que ele ainda não tenha aparecido.

Sendo assim, é possível resgatar as possíveis origens de determinados pensamentos políticos atuantes atualmente. O que nos permite excluir tais posturas da política à brasileira para sempre. A subserviência civil, desenvolvida por diversos acontecimentos sociais brasileiros já mencionados, dificulta a emancipação.

Por conseguinte, o Messianismo Político age por chavear as algemas da esperança. Trazemos da religião, da religiosidade, essa ideia de salvador de todos os problemas, e isso faz com que tudo relacionemos como algo pequeno, destino incerto, impossível de ser restaurado sem que seja pela mão do escolhido. Isso talvez nunca aconteça. Portanto, por que não buscamos mudar pelo bem de nós mesmos? Fazer do Brasil um país melhor pelas nossas próprias mãos? A política nunca foi isenta de culpa. Mas ela é a saída vigente pra atenuação dos problemas. Acreditemos nela.

Afinal, o pessimismo é um artifício que só percebemos ser ruim quando ele já se tornou um inimigo poderoso dentre de nós.

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