sábado, 16 de abril de 2011

Registro em cartório.


Os manuais de amor que transitam pelo mundo, desde os idos da modernidade até o crepúsculo desta era afirmam que o amor é mágico e quanto mais belo, mais natural se dá. Haveria natural tão mais quanto o olhar?

A Catarina, a Gabriela ou a Julia, quem sabe a Luisa e a Fernanda, eu olho-as e não raras vezes sou observado. A concomitância dos olhares não poderia ser um sinal, uma cláusula pétrea que significasse a reciprocidade, não só a dos olhos, mas quem sabe a do coração? O jogo de cartas marcadas, um determinismo, no mundo das idéias, seria um revés ao amor. Entretanto seria inegável sua eficiência aos leigos nessa de amar.
Peço perdão àqueles que tomaram minha divagação como arrogância. Mas é que me sinto traído com essa ode ao amor burguês que eu não posso viver. Os grandiosos salões de festas, as princesas e seus príncipes, os renegados a quem só o platonismo dá proteção, os choramingos das senhoritas preteridas. A nobreza já nasceu estreita e se reproduziu aos consangüíneos, logo sua distância aos mortais.

Quero para já a abolição dos privilégios de nascimento que ainda perduram nessa de amar. Sinto-me preparado para cultuar a beleza da mulher que os meus olhos disserem sim. Quero fazer sonetos infantis e colocá-los dentro de seu travesseiro. Quero ter de brigar porque ela está a demorar no banho e depois por não se decidir se o scarpin que lhe custou os olhos da cara está combinando com sua roupa. E prometo não criticar a tendência biológica do gênero feminino à guerra.

Registro em cartório.

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