quarta-feira, 20 de abril de 2011

Didática Inconsequente


Como me é peculiar, começo a pedir desculpas por mais uma deliberação intelectual que insiste em contrapor o mundo das idéias ao mundo que é mundo. Mas, se a inquietude lhe é apresentada, renunciá-la é quase sempre um erro fulcral.

Palavras vazias, incoerências, idéias desconexas pinçadas e postas no papel apenas a confundir as pessoas? Talvez assim seja interpretado mais este texto. Como também estou a interpretar o sufrágio. Este, quando transladado da caverna de Platão para o mundo objetivo/didático desnatura-se como a proteína a cinqüenta graus centígrados. Desnatura-se, pois o sufrágio é mais uma égide intrínseca ao pensamento do homem. O sufrágio está a prometer e não a consolidar. O sufrágio “É”. Entendê-lo como “IRÁ SER” é errático.

O sufrágio:
Transliterado de Claudio de Cicco e Alvaro de Azevedo Gonzaga na “Teoria Geral do Estado e Ciência Política”: “direito público subjetivo de natureza política, que tem o cidadão de eleger, ser eleito e de participar da organização e da atividade de poder”, p. 104.
Atendo-me ao conceito em sentido estrito, sem a intenção de alargar ainda mais os campos da análise do fenômeno, percebo quão desnecessária é a pergunta: “o sufrágio é obrigatório ou não é?” A pergunta é desnecessária justamente pelo sufrágio preexistir ao voto, justamente por este ser extensão daquele. Também por ser o sufrágio construção constante, inercial, inalienável, por não existir força anulatória de sua grandeza, pois esta se existisse, consecutivamente também destruiria o homem em todos os aspectos. Ou seja, o sufrágio não é exercitável, obrigatório ou facultativo, ele está ali independente da ação humana, no caso da contemporaneidade, do votar ou abster-se de votar. Isto se dá por não ser o sufrágio direito, tampouco dever, não apresentando definição eficiente, irrefutável. Talvez um axioma, reiterando o ‘’É’’ em detrimento do “IRÁ SER’’.

O voto:
Tem caráter finito, conclusivo, por mais boa vontade que se tenha a posteriori. A Ciência Política erra por analisar o sufrágio em função do voto, como conseqüência deste. Quando cada fagulha do pensamento é criada, também assim é o sufrágio. Digo que o homem é como essas letras contidas no texto e o sufrágio é a memória do computador. Tudo digitado é gravado, no ato. A construção progressiva do texto é acompanhada pela sobreposição de salvamentos do mesmo pela máquina. Assim também a relação entre pensamento e sufrágio. Quando é outorgada faculdade não suportável ao voto, quando se confere a ele o poder de materializar algo que lhe é bem maior (o sufrágio), avizinham-se grandes distorções. A relação pensamento-sufrágio não necessita de intermediações para se realizar. Pois se assim o fosse, a equação seria esta: PENSAMENTO+AÇÃO (VOTO) = SUFRÁGIO (influir na política). Mas, como já afirmado, a omissão, a abstenção, também gera sufrágio, de qualidade diferente, mas igualmente resultado. Portanto, verifica-se mesmo que a supervalorização do voto é ultrajante, desastrosa, como também qualificar o sufrágio em obrigatório ou facultativo.

Em linhas gerais, o sufrágio é impossível de ser qualificado e analisado como conseqüência do voto. Imagine só quanta inconseqüência é qualificá-lo como obrigatório ou facultativo! Pois é claro a amplitude de um em relação ao outro. A imponência do primeiro em relação ao segundo. E como não tenho pretensão de fazer parte da escola da Exegese, não pretendo fazer do sufrágio o camelo que vai passar no buraco da agulha, ou melhor, do voto.



PEDRO HENRIQUE DO AMARAL

sábado, 16 de abril de 2011

Registro em cartório.


Os manuais de amor que transitam pelo mundo, desde os idos da modernidade até o crepúsculo desta era afirmam que o amor é mágico e quanto mais belo, mais natural se dá. Haveria natural tão mais quanto o olhar?

A Catarina, a Gabriela ou a Julia, quem sabe a Luisa e a Fernanda, eu olho-as e não raras vezes sou observado. A concomitância dos olhares não poderia ser um sinal, uma cláusula pétrea que significasse a reciprocidade, não só a dos olhos, mas quem sabe a do coração? O jogo de cartas marcadas, um determinismo, no mundo das idéias, seria um revés ao amor. Entretanto seria inegável sua eficiência aos leigos nessa de amar.
Peço perdão àqueles que tomaram minha divagação como arrogância. Mas é que me sinto traído com essa ode ao amor burguês que eu não posso viver. Os grandiosos salões de festas, as princesas e seus príncipes, os renegados a quem só o platonismo dá proteção, os choramingos das senhoritas preteridas. A nobreza já nasceu estreita e se reproduziu aos consangüíneos, logo sua distância aos mortais.

Quero para já a abolição dos privilégios de nascimento que ainda perduram nessa de amar. Sinto-me preparado para cultuar a beleza da mulher que os meus olhos disserem sim. Quero fazer sonetos infantis e colocá-los dentro de seu travesseiro. Quero ter de brigar porque ela está a demorar no banho e depois por não se decidir se o scarpin que lhe custou os olhos da cara está combinando com sua roupa. E prometo não criticar a tendência biológica do gênero feminino à guerra.

Registro em cartório.