segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Em terra de cego, quem tem um olho é rei - O MST e seus adversários



Sou fã incondicional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Só pelo fato de Noam Chomsky, no Fórum Social Mundial, ter alcunhado o movimento como "o maior movimento social do mundo", minha posição seria fácilmente explicável. O que não é fácil de se entender é o macartismo da imprensa brasileira e dos seus formandos em reacionarismo político, os brasileiros. Esses, não conseguem encontrar a relação óbvia de orgulho nacional e bons serviços prestados à nação brasileira pelo MST. Sim, algum provável alvo da minha ironia inicial deve ter rido da última afirmação, pois "eficiência" faz parte do seu dicionário sacro. Faz parte, porque eficiência quer dizer que o caótico trânsito de SP não pode ser parado por causa de uns baderneiros com bandeiras vermelhas, que bradam palavras de (des)ordem e esperança.

A esperança para uns é o pesadelo de outros. O que é Reforma Agrária para as famílias campesinas que lutam por alguns alqueires de terras, pode ser um atentado à moral e os bons costumes. Moral, leia-se: propriedade privada. Propriedade essa que na letra da constituição, se faltar com a sua função social, deve ser expropriada, extinguida, posta à ruina. Por que então sentir empatia pelos pés de laranja de uma empresa que sequer abastece-nos com um litro de suco? Por que sentir empatia por mudas e sementes transgênicas que ferem a lei ambiental e até a livre concorrência que os liberais dizem ser tão importante? Eu não sinto empatia por pés de laranja. Eu sinto empatia por estômagos que estão acostumados a roncar de fome e ouvidos acostumados a escutar que sua luta é equivocada. Isso é ou não é um bom serviço prestado ao povo brasileiro? Estou cansado de ver ambientalistas e defensores das matas e dos animais a chorar quando veem o sofrimento de seus rebentos. Mas quem vai até o cerne da violência, do bandido que suja os rios e destroi as matas, é o Movimento dos Sem Terra. São os tais "vagabundos". "Aqueles que não querem aprender a pescar, querem apenas comer o peixe pescado." Mentira! Vagabundos somos nós que ficamos enfurnados e desnorteados na conjuntura social que o capital nos impõe. Que ficamos temerosos se a chuva vai ou não atrapalhar o nosso final de semana na Fazenda dos Prazeres, do prefeito da nossa cidadela, mais vistosa como ambulatório e confinamento de lavradores de cana de açucar. Sou eu, é você.
Até quando aqueles que estão à frente do nosso tempo, que procuram alterar o que se chama economia de mercado e transformá-la em economia solidária, transformar o latifundiário em milhares de assentados, vão sofrer com a nossa burrice, a nossa falta de cidadania e também de [nossa falta de] inteligência? Os atores sociais do nosso tempo, muitas vezes, nem sabem escrever. Tampouco foram na escola. Tampouco já chegaram perto de um computador. E mesmo assim, são eles quem lutam pelo progresso e pelo desenvolvimentismo, não só do "Estado Democrático de Direito", mas da condição humana de se indignar.

5 comentários:

  1. "Eu não sinto empatia por pés de laranja. Eu sinto empatia por estômagos que estão acostumados a roncar de fome"

    A mídia sempre escolhe um fato isolado que pode denotar a fama de "baderneiros" aos militantes e isso é o que fica, né... ainda bem que ainda existem veículos de informação da esquerda que nos ajudam a formar uma opinião um pouco menos envenenada.
    Ainda que, infelizmente, ainda sejamos rebatidos com argumentos clássicos "MST? bando de vagabundos!" ao mencionar reforma agrária, todo mundo sabe que este movimento é o mais bem sucedido de todos... e o mais bem organizado. Tenho absoluta certeza de que isso se deve muito ao modo pelo qual concebem a educação dos pequenininhos. Política e educação propriamente "escolar" juntas desde sempre... é lindo.
    Parabéns pelo texto, Pedro. Obrigada por compartilhar com a gente!

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  2. Um fenômeno muito estranho do Brasil é os pobres e a classe média falida torcer pelos grandes empresários, pelos latifundiários, em detrimento de gente mais parecida com eles. É um ideal do capitalismo do "todo mundo pode subir na vida", então preferem estar do lado dos exploradores (já que um dia o sujeito, na sua cabeça, tem possibilidade de se tornar um) do que dos explorados.

    Não há uma crítica séria, sem lugares-comuns, sobre o MST. Ao menos não dessa gente. Só recaem no "baderneiros", "queria ver se você tivesse uma fazenda e o MST invadisse" etc. Um povo acrítico que resolve ser crítico somente quando algo pode transformar a sociedade pode ter alguma transformação, quando acham que um grupo de gente pobre vai ter "privilégios". O mesmo acontece com as cotas raciais nas faculdade. O povo não quer ver alguém parecido consigo se dando melhor, nunca.

    Ah, e além de muitas boas ideias, seu texto é incrível. E vamos nos manter na luta diária, que os inimigos são milhões e milhões.

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  3. Ah, só mais uma coisinha... o MST jamais afrontou o princípio da propriedade privada... porque também está pautado nesse princípio. Afrontou, sim, o princípio da grande propriedade nas mãos de uns poucos privilegiados...

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  4. E tem subsídio moral pra isso, se quisesse. Mesmo afrontando o Estado Democrático de Direito, a Constituição e tudo isso, teria meu apoio. Como disse, sou fã incondicional.

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  5. Mais fácil repetir velhas lorotas que parar um pouquinho pra refletir.

    MST é assunto casca grossa e pouca gente tem disposição pra se aprofundar nesta seara. Inda bem que temos a 'Vênus Prateada' pra nos munir de informações idôneas.

    Continue, Pedrinho_

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